“Ao Brizola, eu devo o primeiro lápis que tive na vida”, Caco Barcellos


Por Elizângela Isaque
21/06/2017

Uma das maiores marcas do nacionalista Leonel Brizola é, sem sombra de dúvidas, a luta por uma educação de qualidade no Brasil. E essa afirmação pode ser comprovada por meio de suas administrações, primeiro como governador do Rio Grande do Sul e, depois, no estado do Rio de Janeiro, que ele governou por duas vezes consecutivas.

E quem melhor do que um ex-aluno beneficiado pelas políticas públicas adotadas por Brizola, para “desenhar” o papel que as iniciativas do fundador do PDT desempenharam para o futuro de várias crianças pobres do País?

Leia, abaixo, a declaração do renomado jornalista Caco Barcellos, transcrita pelo jornal ‘O Dia’, em 27 de junho de 2004, por ocasião da morte do líder trabalhista, na qual ele expressa que só conseguiu começar a estudar devido à ajuda do então governador gaúcho Leonel Brizola.

Ao Brizola, eu devo o primeiro lápis que tive na vida; o primeiro caderno – que a minha mãe guarda até hoje –, a oportunidade de praticar esporte e música em um espaço digno e o acesso à alimentação com proteína de primeira linha. Impossível também esquecer o dia em que eu e os meus colegas lá na Partenon recebemos um tênis padrão das ‘brizolinhas’, como eram chamadas as milhares de escolas públicas que ele mandou construir nos bairros pobres de Porto Alegre. 

Lembro, como se fosse hoje, que ouvi a justificativa do Brizola pelo rádio; ‘É um absurdo que os animais do nosso País sejam mais bem-tratados do que as nossas crianças. Nunca vi, no Brasil, um bezerro abandonado, nem um cavalo sem ferradura no casco. Toda criança pobre tem que ter, no mínimo, o direito a um sapato no pé’.
 
Isso foi objeto de muitas críticas na imprensa dos conservadores, que já naquela época tentavam desmoralizá-lo, dizendo que o Brizola era o prefeito dos ‘pés-de-chinelo’, como se isso fosse uma ofensa.
Portanto, a ajuda dele foi indireta, mas fundamental, decisiva. Eu só comecei a estudar aos oito anos de idade, porque, até 1958, não havia vagas disponíveis, eram raríssimas as escolas públicas para o primário na periferia de Porto Alegre. Da mesma forma, o ginásio onde estudei também foi construído durante a gestão dele na prefeitura da cidade.
 
Por causa dessa base emotiva, nunca deixei de acompanhar com interesse a trajetória do Brizola como estadista. Décadas depois, vibrei muito, quando ele reproduziu a experiência das ‘brizolinhas’ no Rio de Janeiro, que ganharam o nome de Cieps – ou ‘Brizolões’ –, com o incentivo de outro guerreiro dos trabalhadores ‘não-organizados’ do País, o Darcy Ribeiro.

Ambos vão fazer muita falta. Nunca entendi porque ele jamais teve o apoio da esquerda dos sindicalistas, dos trabalhadores organizados de São Paulo. Mas essa é uma história para uma carta mais longa. Espero que algum dia o Brizola tenha a sua obra e importância histórica reconhecidas, não só pelos pobres do Brasil.

Um abraço, Caco Barcellos.

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