No RJ, 2,8 milhões de pessoas passam fome, afirma pesquisa


Osvaldo Maneschy
25/06/2022

Relatório aponta que 60% da população sofre com insegurança alimentar  

No estado do Rio de Janeiro, 2,8 milhões de pessoas passamfome e 60% da população sofre insegurança alimentar – o que significa algum tipo de privação de acesso a comida. É resultado de pesquisa, que mostra que este drama dobrou de tamanho de quatro anos pará cá, coincidindo com o governo Bolsonaro.

A reportagem é de ‘O Globo’, segundo a qual é enorme o número de pessoas, na maioria mulheres, que hoje cata restos de comidas, por vezes estragada, nos lixos da Ceasa e de outros mercados. Divulgado esta semana, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede PENSSAN, mostra que 38,58% das famílias chefiadas por mulheres enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave.

O percentual é menor, ainda que dramático, naquelas em que ohomem é o responsável por custear as despesas da casa: 28,2%.

A “Agenda Rio 2030 — propostas por justiça econômica, racial, de gênero e climática”, da Casa Fluminense (associação civil sem fins lucrativos que busca, entre outros, fomentar ações voltadas à promoção de igualdade), vai na mesma linha.

A entidade é categórica ao afirmar que, em mais um ano depandemia que acirrou desigualdades, “diversas organizações identificaram que as maiores vítimas da fome e da pobreza são, ainda, as mulheres (cis e trans), pretas, pardas, pobres e moradoras de favelas e periferias”.

Técnicos da Casa Fluminense calculam, por exemplo, o peso docusto de vida mensal no Estado do Rio para uma mulher chefe de família que recebe um salário mínimo (cujo piso no estado é de R$ 1.238,11) na ocupação de empregada doméstica.

Se ela depende do transporte ferroviário para ir ao trabalho e voltar para casa, por exemplo, vai desembolsar no mínimo R$ 210 com duas passagens por dia (21 dias úteis), isso sem contar com outros meios de transporte para chegar à estação.

Já com a cesta básica, segundo dados do Dieese para abril de 2022, ela gastará R$ 768 e, com o botijão de gás, R$ 100, podendo chegar a R$ 125, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para maio de 2022. No fim, sobrariam apenas R$ 160,11 para todas as demais despesas, como habitação, educação, saúde e lazer, numa conta que não fecha.

Feminização

O mais recente estudo da FGV Social sobre a insegurança alimentar no Brasil chega a apontar a “feminização” da fome. Entre 2019 e 2021, o levantamento identificou que aumentou de 33% para 47% a parcela das mulheres no país que não tiveram dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento nos últimos 12 meses. Já entre os homens, houve uma redução, de um ponto percentual, de 27% para 26%.

“A pandemia impactou mais as mulheres que foram mais afetadas no mercado de trabalho, possivelmente porque carregam, em geral, responsabilidade maior no cuidado dos filhos e da família, atividade relativamente mais demandada durante o isolamento social. Essa possível causa para a feminização da fome magnifica suas consequências para o resto da sociedade, em particular, as crianças”, afirma o documento.

Dentro de uma lixeira da Central de Abastecimento (Ceasa) doRio de Janeiro, há pouco mais de uma semana, a dona de casa Elizabeth de Moraes separava cebolas inteiras, batatas menos machucadas, cenouras sem raiz. Limpava tudo com um papel e punha em um carrinho. Em vez de percorrer barracas, é ali queela faz a feira da família.

Uma vez por semana, sai de Santa Cruz, onde mora com o marido, uma filha e três netos, e vai até a Ceasa, em Irajá, onde, segundo a Embrapa Agroindústria de Alimentos, nada menos do que dez toneladas de alimentos vão parar no lixo diariamente. Assim Elizabeth diz ter criado seus dez filhos, contando, semanalmente, com os alimentos descartados por feirantes no local.

A cena carioca é um retrato de proporções mundiais alimentada pelo desperdício, que, se fosse atacado, abriria espaço para saciar a fome de um bilhão de pessoas mundo afora, sendo que 19 milhões no Brasil — mais do que os 13 milhões de brasileiros com fome.  O cálculo famintos versus desperdício é de pesquisadores da Universidade  finlandesa de Aalto e foi publicado, este mês, na revista americana “Science”.

Fontes:  ‘O Globo’ e ‘Agenda do Poder’

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