“Margem equatorial, novo pré-sal brasileiro?”, por Felipe Kury


Felipe Kury
21/10/2022

A Petrobras anunciou que pretende perfurar um primeiro poço com lâmina d’água de 2.800 metros em 2022

Muito se tem comentado sobre o enorme potencial petrolífero na margem equatorial do Brasil, região onde, a partir do Norte, encontram-se as bacias Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar. Ao que tudo indica, essa nova fronteira de exploração pode ser o novo pré-sal brasileiro, com possibilidade de produzir de 5 a 7,5 bilhões de barris de petróleo recuperáveis se considerado um fator de recuperação de 25%, ou seja, um volume inicial in situ de 20 a 30 bilhões de barris de petróleo.

Segundo os estudiosos na área, a margem equatorial brasileira possui uma geologia semelhante à costa atlântica do norte da África, a qual se inicia na costa nigeriana e se estende até Gana e Costa do Marfim, onde ocorreram algumas descobertas importantes de petróleo no final dos anos 2000. A formação geológica da era cretácea (“Upper Cretaceous Age”), há cerca de 100 a 165 milhões de anos, deu origem ao sistema petrolífero existente em várias regiões da costa atlântica africana e em regiões da costa brasileira como Sergipe, Espírito Santo, assim como as bacias de Santos e Campos, uma vez que, nesta época, essas regiões estavam conexas.

O potencial petrolífero da margem equatorial começou a ser materializado com a descoberta do campo em águas profundas de Jubilee na costa de Gana em 2007, seguido de outras em regiões adjacentes e na Costa do Marfim. Estas descobertas motivaram a ideia de que áreas geologicamente semelhantes deste lado do Atlântico, tais como as bacias de Para-Maranhão e Barreirinhas, também poderiam ter um potencial petrolífero equivalente.

De fato, este incrível potencial começou a ser relevado em 2011 com uma descoberta em águas profundas (2.048m de lâmina d’água) na Guiana Francesa, somente a 50 km da fronteira com o Amapá. A descoberta foi resultado da perfuração do poço Zaedyus (profundidade de 5.711 metros) pela empresa Tullow – de origem irlandesa e com sede atualmente em Londres.

Adicionalmente, em 2015 a empresa americana ExxonMobil iniciou suas atividades no bloco Stabroek na Guiana, onde encontrou 18 acumulações de petróleo de boa qualidade durante uma campanha de cinco anos – e, hoje, acredita-se que consiga alcançar de 7 a 9 bilhões de barris equivalentes recuperáveis.

Em julho deste ano, a empresa anunciou mais duas descobertas (Seabob e Kiru-Kiru) ao Sudeste dos campos de Liza e Payara. As unidades de produção Liza Destiny e Unity, combinadas, podem chegar até 340 mil barris de petróleo ao dia (bpd). Um terceiro projeto denominado Payara – a unidade de produção Prosperity, com capacidade de produção de 220 mil bpd, deve entrar em operação em 2023. Assim sendo, somente em 2022, a empresa completa sete descobertas de um total de 25, desde que iniciou as atividades na Guiana.

E como fica o Brasil nesta história? Boas notícias, recentemente, indicam que o País se mobiliza para acelerar o processo de exploração na região da Margem Equatorial. A Petrobras anunciou que pretende perfurar um primeiro poço com lâmina d’água de cerca 2.800 metros a 160km do litoral norte do Amapá até o final de 2022. Os investimentos previstos para exploração na região serão da ordem de US$ 2 bilhões, sendo que este valor representa 38% do total de US$ 5,5 bilhões reservados para atividades de exploração no plano de investimento da empresa até 2026.

A margem equatorial brasileira atraiu grande interesse das operadoras na 11ª Rodada de Licitações de áreas de petróleo e gás natural realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em 2013, quando o consórcio formado pela Total (40%), Petrobras (30%) e BP (30%) adquiriu o direito de exploração da área pagando um bônus de assinatura no valor de R$ 345,9 milhões. Após quase uma década perdida em função da dificuldade de obtenção de licença ambiental para continuar a campanha exploratória, a Total foi obrigada a desistir do projeto em 2020, junto com a BP logo na sequência, em 2021.

Seguindo com boas notícias, no mês passado a ANP aprovou a inclusão de 218 áreas na Margem Equatorial no regime de Oferta Permanente, ampliando o número de áreas disponíveis de 71 para 289. Estas áreas estão localizadas em cinco bacias sedimentares, que se estendem do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte: Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar.

É importante destacar que especialistas na área estimam um potencial de 30 bilhões de barris de petróleo na região – com um volume estimado recuperável de 7,5 bilhões de barris de petróleo – o qual poderá ser ainda maior dependendo dos resultados da campanha exploratória e utilização de novas tecnologias no aumento do fator de recuperação.

Os investimentos da Petrobras na região buscam viabilizar a infraestrutura operacional, socioambiental e de comunicação para dar início à campanha exploratória. Como consequência imediata, estes investimentos devem movimentar toda a economia da região em diversos setores, desde áreas de apoio marítimo e ambiental até setores como hotelaria e serviços em geral.

A decisão da Petrobras em investir em exploração na Margem Equatorial terá uma transformação muito relevante para toda região Norte do país, transformação esta que deverá ser ainda mais significante se a empresa tiver êxito com descobertas de petróleo e gás natural. O resultado pode transformar a região em um “novo pré-sal brasileiro”, com benefícios incalculáveis para a sociedade, o setor de petróleo e gás natural e para o Brasil.

 (*) Felipe Kury é ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e consultor independente.

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