Manuel Domingos Neto acusa militares de sonharem com outra ditadura


Osvaldo Maneschy
21/10/2022

“Todo mundo quer saber o que querem e podem fazer os militares, e também o que fazer com os militares”, afirma o historiador

O historiador Manuel Domingos Neto, ex-vice-presidente do CNPq  doutorado pela Universidade de Paris, em palestra na última quarta-feira (19/10), no Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ), afirmou que os militares brasileiros  “têm um projeto de ditadura e de submissão para o país”.  Domingos Neto lançou no evento o livro “Comentários a um delírio militarista”, que organizou,  uma coletânea de 35 artigos todos focados na questão militar brasileira dos dias atuais – publicada pela editora Gabinete de Leitura.

O engenheiro Francis Bogossian, ex-presidente do Clube de Engenharia e atual  presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep), classificou a palestra de Manuel Domingos Neto de “ato de fé na democracia” brasileira porque  o lançamento do livro e o ato no Sindicato dos Engenheiros, na sua opinião, são parte do sonho de construir uma sociedade mais justa para os brasileiros, “sonho que jamais abandonaremos”.
Na sua palestra, Manuel Domingos Neto definiu o estudo apresentado em maio último por militares intitulado “Projeto de Nação, o Brasil em 2035” como “assombroso projeto de submissão dos interesses nacionais a uma ditadura com a destruição da memória e da alma brasileira”. Frisou que é na sua opinião o estudo não passa “de um projeto fascista de nos jogar na condição de produtor e exportador de mineiros e comida”, além de acabar com a democracia formal no Brasil “estabelecendo um governo à revelia da representação popular”.
No livro, os articulistas  analisam o documento militar com propostas para o país produzido por meio de parceria entre o Instituto Sagres,  o Instituto Federalista e o Instituto General Villas Bôas.  Segundo Domingos Neto, “é um livro sobre o delírio que corre nos quartéis visando perpetuar o domínio castrense”.  Frisou que “os militares têm projeto, sabem o que fazer e não é coisa boa”.
O documento militar  que gerou o livro foi tornado público no inicio do ano em evento com a participação do vice-presidente Hamilton Mourão, senador recém eleito. Na opinião de Domingos Neto, é um texto que abrange todos os setores da economia e da sociedade brasileira, recuperando conceitos da doutrina de segurança nacional da ditadura que durou 21 anos e acabou em 1985.
Para Domingos Neto, é urgente que os parlamentares, os partidos políticos, os formadores de opinião, a academia (nos seus cursos de História, Sociologia, Antropologia, entre outros) e outros segmentos da sociedade brasileira estudem os militares.
Doutor em História pela Universidade de Paris, Domingos Neto  entende que há grande dificuldade de a sociedade conhecer as posições políticas e as intenções das Forças Armadas.
“Todo mundo quer saber o que querem e podem fazer os militares, e também o que fazer com os militares. Mas é muito difícil dizer, porque são caixas pretas difíceis de penetrar”.
Para transformar as Forças Armadas, na sua opinião, será necessário transformar o próprio conjunto do Estado brasileiro – o Sistema de Segurança Pública (e as PMs), do Judiciário e de Ensino.
“É o controle das almas”, diz. “Esse ensino cívico-militar está aprontando o Brasil fascista”.  Segundo o historiador, temos hoje uma “sociedade desavisada com relação ao perigo que corremos da vontade castrense de dominar”.
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