Edir Inácio: legado de conquistas e benefícios para o nosso povo


Nathalia Ramos
14/04/2022

Viveu para lutar intensamente por liberdade e democracia no Brasil 

Edir Ignácio da Silva, meu “paizão”, desencarnou ontem (13), em Niterói. Sou uma pessoa de sorte, porque tive dois pais; meu querido pai biológico Osvaldo, e esse que eu chamava de “paizão”. Apesar de ser muito baixinho, na minha visão infantil, ele era enorme e com um amor gigante por nós.

Ele está presente nas minhas melhores lembranças da infância e como era engraçado, alegre e contagiante. Vivia rodeado de amigos, todo mundo queria estar perto dele, pedir opinião, conversar e qualquer encontro virava uma festa. Ele adorava contar histórias e celebrar! Sabe esse tal estado de presença e alegria que, hoje em dia, tanto se fala? Que a gente faz curso, medita e paga terapia para tentar alcançar? Ele vivia assim. Vivia sorrindo e fazendo sorrir! Acho que, por isso, o chamava de paizão. Era o meu herói.

Na vida real, ele foi um verdadeiro herói e infelizmente, como todo herói, sofreu demais. Durante a infância, eu ouvia algumas histórias sobre algo terrível que tinha ocorrido com ele, familiares e amigos. Por vezes, eles choravam, mas eu não entendia muito. Quando cresci e estudei a ditadura, a ficha caiu. Um professor de história fez, certa vez, um evento na escola sobre a ditadura e ele foi dar seu relato para a turma. Ficamos todos em choque! 

Vindo de uma família de revolucionários e companheiros de Luis Carlos Prestes desde a campanha da legalidade, quando conheceu Brizola, até o golpe militar, ele, ao lado dos seus pais, irmã e amigos, viveram empenhados em garantir a liberdade e a democracia do nosso país.

Foram presos muitas vezes e sofreram todas as barbáries e horrores desse período sombrio. No final da ditadura, Edir ficou quase um ano preso em Ilha Grande. Antes do presídio ser implodido na década de 90, ele nos levou lá. Ficamos no barco, ele e alguns amigos entraram para ver pela última vez aquele local. Lembro de pensar: “Nossa, isso tudo é real e aconteceu com ele”. 

Paizão tinha no corpo muitas marcas de tortura, mas não no coração. Dor e sofrimento não combinavam com ele. Tá aí uma pergunta que deveria ter feito pra ele: “Como você conseguiu ressignificar tanta dor?” Não sei como, só sei que depois da ditadura ele foi incansável e realizou tantas coisas incríveis que precisaria de muitas páginas para descrever, como, por exemplo, levar luz elétrica para diversas cidades do Rio de Janeiro e até combater esquema de corrupção em órgãos públicos (período desafiador e tenso na nossa vida). 

E, assim, ele permanece vivo para sempre! Seu legado está em diversas conquistas e benefícios para o nosso povo, como o Médico de Família, um projeto audacioso que ajudou a implementar e que, até hoje, cuida da saúde das famílias de todo país. 

Acho que era esse desejo de levar ajuda para as pessoas que o fazia ressignificar o passado e seguir em frente. E esse é um detalhe importante: ele não ficava passivo esperando alguém pedir ajuda. Ele ia até quem precisava.

Lembro bem dessas palavras: “levar uma luz na escuridão,  auxílio e moradia para os sem terra e levar médicos até as comunidades”. Sinto que essa é uma característica das grandes almas que as vezes nos visitam aqui na terra: a verdadeira caridade, o auxílio incansável!

Paizão, você foi o “maior” pai que eu poderia ter. Você foi e é muito importante para a gente. Obrigada pela sua luta, entrega e vida.

*Nathalia Ramos é jornalista, especialista em marketing político e filha de Eva Ramos.

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