Ciro no Conversa com Bial: “Os tribunais precisam parar de fazer política e fazer cumprir a lei”


Por Osvaldo Maneschy
10/08/2021

Ao invés de os militares moderarem Bolsonaro, ele subornou sua a cúpula e a transformou em partido político miliciano

O pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, afirmou esta madrugada no programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo, que  o presidente Jair Bolsonaro  está usando a campanha do voto impresso para desviar a atenção do cenário atual do país, com mais de 14% da força de trabalho no desemprego, 40 milhões de trabalhadores na informalidade,  salário mínimo com o menor poder de compra dos últimos 16 anos e crescente aumento da inflação.

“Nós tínhamos que estar forçando o debate para aqueles assuntos que de fato interessam ao povo e não deixar Bolsonaro excitar a minoria de fanáticos que o seguem cegamente como ele vem fazendo”, ao mesmo tempo em que os tribunais brasileiros “precisam parar de fazer política e cumprir a lei”. Ciro confirmou que vai tentar chegar à presidência da República ano que vem e é o primeiro de uma série de entrevistas do jornalista com personalidaes envolvidas com as eleições presidenciais do ano que vem.

Sobre os desdobramentos da crise política causada pelo ao enfrentamento de Bolsonaro ao STF e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE),  que deve alcançar novo patamar nesta terça-feira (10/8) com o desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios em Brasília, repetindo gesto do general Newton Cruz para tentar intimidar o Congresso na votação da emenda das Diretas-Já, em abril de 1984, Ciro disse:

“Em vez de os militares moderarem Bolsonaro, ele subornou essa cúpula militar que está perigosamente sendo transformada em um partido político miliciano. Esse problema é o que temos que enfrentar agora!   Estou fazendo uma súplica ao poder político, nós precisamos carregar na pressão e dizer ao seu Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e aos senhores senadores, colégio de líderes, e ao seu Arthur Lira e ao seu colégio de líderes, à mesa, ao parlamento, que eles estão prevaricando. Que eles tem uma responsabilidade indeclinável de botar ordem nesse caos institucional que o Bolsonaro está buscando como caldo de cultura para o delírio golpista que ele tem”.

Bial e Ciro falaram sobre vários assuntos, inclusive bastidores das eleições de 2018 e declarações de Ciro logo após a vitória de Bolsonaro. Ciro revelou que errou ao acreditar que alguns núcleos do governo Bolsonaro, como o militar e o econômico, teriam uma racionalidade com que seria possível dialogar e frisou:  “Cara, eu mordi a língua”.

“Paulo Guedes virou um patrimonialista sem precedentes e em vez dos militares moderarem o Bolsonaro,  Bolsonaro subornou a cúpula militar” e citou nominalmente como integrantes dessa corrente os generais Braga Neto, ministro da Defesa; e Augusto Heleno, do GSI.

“Ao invés de ser moderado por eles, o Bolsonaro subornou e corrompeu uma parte da cúpula dos militares e das PMs. E no delírio dele é com isso que ele vai enfrentar a democracia”.

Destacou  que o Brasil  “ tem hoje a maior quantidade de brasileiros no trabalho precário, a inflação voltou, a política está praticamente desmoralizada e não faltam problemas para que a gente sinta indignação com o que está acontecendo”. Isto explica, acrescentou Ciro, o uso frequente de palavras duras que faz ao se referir à crise: “Tem hora que a indignação não permite o uso de palavras amenas”..

Na entrevista de meia hora, disse também que em 1993, “eu, como Governador do Ceará, pedi a cassação e a prisão do deputado Jair Bolsonaro porque ele  sempre foi um cara ligado a tortura, ao banditismo institucionalizado e as milícias”.

A sua relação com o ex-presidente Lula, com o ex-candidato à presidência do PDT Fernando Haddad, e sua ida, com Haddad, ao gabinete do ex-ministro Delfim Neto, publicamente divulgada pelo próprio, também foram assuntos dessa entrevista – de meia hora; que Bial abriu mostrando a biografia de Ciro Gomes, a viagem de Ciro à Portugal quando ainda era adolescente e ganhou um concurso sobre Camões, conhecendo Lisboa antes de Fortaleza;  e encerrou falando do background vocal que Ciro fez, quando era governador, com o cantor Raymundo Fagner, no interior do Nordeste.

 

Veja a íntegra da entrevista:

https://globoplay.globo.com/v/9755345/programa/

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