Pelo ideal de Alberto Pasqualini, a tradução do perfil de Jair Bolsonaro

Foto: Reprodução/Internet

Por Bruno Ribeiro / FLB-AP
22/09/2020

Liderança emblemática do Trabalhismo, ex-senador gaúcho descreve o impacto ditatorial no sistema democrático

“O fenômeno ditatorial tem caracteres e estilo próprios, segundo as suas causas determinantes, e a sociedade em que se manifesta.” Com um enquadramento singular, o advogado e senador Alberto Pasqualini, que completaria 119 anos nesta quarta-feira (23), traduz, com requintes visionários, o perfil que se adéqua perfeitamente ao governo do presidente da República, Jair Bolsonaro.

As declarações, divulgadas há 77 anos em um artigo no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre (RS), mostram, se inseridas nos dias atuais, como o Brasil convive com uma chama opressora modernizada diante da tentativa de reconstrução, ainda que breve, de uma nova jornada democrática após décadas de regime militar.

“Nos povos de certo nível cultural, o ditatorialismo postula, necessariamente, uma base ideológica, engendra uma mística reivindicatória e procura fundamentar-se num ideal ou programa político e social que se propõe realizar”, descreve.

“A doutrina cria adeptos, aderentes e interessados, e a ditadura se instala apoiada num partido. A existência deste implica, de certo modo, a ideia esotérica e o reconhecimento de que o povo é a fonte e a origem do poder, captada e interpretada, porém, a sua vontade através das antenas e das reações do ditador”, completa.

Marcante em sua trajetória como uma das lideranças do Trabalhismo no Brasil, Pasqualini mostra sua percepção detalhista de situações que eram fortemente evidentes durante a sua geração, como com Hitler e Mussolini, mas que demonstravam ainda parâmetros de reativação a partir de fatores reincidentes até em sociedades “desenvolvidas”, teoricamente.

“A inadaptabilidade ocasional do sistema democrático, o desgaste de suas energias em lutas e competições estéreis, a decomposição moral dos órgãos de governo, a sua falta de coordenação, a sua ineficiência e impotência ante os mais graves problemas sociais e nacionais, podem favorecer e propiciar, até nas sociedades mais civilizadas, surtos de primitivismo caracterizados pela regressão do poder ao indivíduo e pela centralização da autoridade”, afirma.

No paralelo com a realidade atual, onde existe a falha do governo bolsonarista na condução do Estado, o trabalhista indica a origem da existência de “verdadeiro divórcio entre as aspirações e os interesses do povo e a conduta dos seus representantes”.

“De intérpretes de sua vontade e de suas necessidades, passam a ser advogados de interesses de grupos, trocando os deveres e as responsabilidades do mandato popular pelo profissionalismo político e pelo negocismo”, relata.

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