O peito de Vargas ainda sangra


Por Wellington Penalva
23/08/2017

“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre”, registrou Getúlio Vargas em sua carta testamento, horas antes de atirar contra o próprio peito. Naquele 24 de agosto de 1954, o pai do pobres impedia o desmonte da nação, dando “em holocausto” a própria vida.

Mais de 60 anos depois, as forças que Vargas combateu com o auto sacrifício retornam aos balcões de negócios. À venda: a soberania e a dignidade nacional. A placa que diz “em liquidação” não é necessária, o governo tem competência e requinte suficiente para criar seu próprio promotor de vendas, o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). O nome é lindo, já o propósito… Bizarro. A imprensa ajuda publicando que o Estado ganhará um bom dinheiro e se livrará das estatais deficitárias.

O peito de Vargas ainda sangra.

A Petrobrás, criada por Getúlio, foi amplamente afanada ao longo de diferentes governos – a Lava-Jato atesta – e atingiu uma dívida de mais de R$ 500 bi. Paralelamente, a empresa também cresceu. É a única com tecnologia própria capaz de explorar o Pré-sal, fruto de muito investimento nacional e anos de pesquisa. Em 2010, a estatal produzia 41 mil barris de petróleo por dia. Em 2014, a produção deu um salto para 500 mil. Ano passado, a conta chegou a 1 milhão. Com um discurso que capitaliza a dívida da empresa, somada a alegação mentirosa de improdutividade, o ilegítimo governo vigente vende a área do Pré-sal que, por baixo, tem capacidade de produção de 50 bilhões de barris de petróleo.

O peito de Vargas ainda sangra.

Na última segunda-feira, chegou a vez da Eletrobrás. Temer anunciou a intenção de vendê-la. Mais uma estatal idealizada por Getúlio para dar ao Brasil autonomia energética, garantindo a soberania nacional, ostenta a plaquinha “Sale” em cima do emblema verde e amarelo. Como em 1954, o grito eufórico do neoliberalismo subserviente brasileiro se utiliza da crise econômica para amplificar uma crise política e justificar a venda do país. A conta fica para o povo, que vê sua riqueza escoar pelas fronteiras ao passo que morre na fila do SUS, sem educação, sem segurança, sem dignidade.

E o peito de Vargas ainda sangra.

Há 63 anos, um homem dava cabo a própria vida para defender um povo, um país transformado por 20 anos de intenso projeto de nação. Getúlio tirou o Brasil da dependência internacional, industrializando, valorizando o trabalhador, a educação e o potencial nacional. Dando vez ao povo humilde, comprou briga com a elite brasileira e a derrotou tão serenamente quanto articulou a Revolução de 1930.

Mesmo assim, o peito de Vargas ainda sangra.

Hoje, continuam tentando derrotar o homem que está vivo na CLT, no salário mínimo, na Petrobrás, na Eletrobras e em tantos outros projetos que dão sentido ao status BRASILEIRO. Provavelmente, eles não leram: “Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência”.

 

*Wellington Penalva é jornalista e integra a equipe de comunicação do PDT Nacional

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