Macunaíma, o coveiro de Getúlio


Gustavo Castañon
01/07/2022

Chegamos ao século XXI, onde o Brasil é o país mais fracassado do mundo

Quando Getúlio voltou ao poder em 1950, ele tinha 67 anos de idade. Ele era então um dos maiores estadistas da história mundial. Tendo liderado uma revolução em 1930, democratizou politicamente e economicamente o país, instituindo o voto secreto, o voto feminino e a legislação trabalhista. Ao mesmo tempo, tinha feito o Brasil ser o primeiro país a superar a crise de 29 e se tornar o país de maior crescimento do mundo.

 Ao voltar, ele tinha plena consciência de que o país tinha mudado e precisava de um salto adiante, e que dessa vez ele precisaria ser dado em pleno regime democrático. Depois de em seu primeiro período ter garantido as bases da industrialização brasileira com a CSN e as primeiras hidroelétricas, ele voltou para criar as bases financeiras, com o BNDE, e as mais importantes das indústrias de base: a Vale do Rio Doce, a Petrobrás e a Eletrobrás. Por ter criado as bases da emancipação brasileira, pagou com a própria vida. E ele sempre esteve disposto a pagar esse preço.

 Agora chegamos ao século XXI, onde o Brasil é o país mais fracassado do mundo. Há onze anos nosso crescimento é zero. Um dos pais desse fracasso retumbante quer voltar. É nosso Macunaíma, o herói sem caráter. Para a geração ignorante e inconsciente de novos petistas, para quem o Brasil começou em 2000, é o melhor presidente de nossa história. Para quem conhece história é, junto com FHC, o maior responsável por nossa desgraça.

 Foi Lula o presidente que provocou a maior desindustrialização do Brasil, quando a indústria caiu de 17% de participação no PIB para 11%. Com sua demagogia cambial, provocou uma farra de consumo e uma destruição de riqueza sem paralelo. Para sucedê-lo, indicou Dilma, como seu vice, Michel Temer. Veio a conta com a queda do preço das commodities, que Lula dizia que ia nos dar o paraíso.

 Lula obrigou Dilma a fechar acordo com a banca e nomear Levy, Chicago-boy empregado do Bradesco, para a Fazenda. Ela então causou com o estelionato eleitoral de 2014 a maior recessão de nossa história, quando perdemos 7% de nosso PIB. Foi derrubada. Com Temer – que Lula colocou na linha de sucessão – à frente do país, Henrique Meirelles, o verdadeiro capo da economia de Lula, voltou ao comando da Fazenda. Ele prolongou o colapso e destruiu a CLT. Depois, em 2018, para impedir a ascensão de Ciro como líder do campo progressista e nacionalista, garantiu a eleição de Bolsonaro bancando Haddad. Lula acreditava que Bolsonaro no poder seria o passaporte para sua volta. Estava certo.

 Hoje vivemos sobre os escombros causados pelas ações políticas de Lula. Sim, Lula está por trás de uma década de destruição do Brasil. E ele não quer voltar para reverter nada disso. Garante agora que manterá a independência do BC (promessa de campanha de Haddad), a privatização da Eletrobrás e o fim da CLT de Getúlio.

 FHC queria enterrar a Era Vargas.

 Mas é Lula que é o coveiro de Getúlio.

 Ontem, em jantar com empresários, Lula teria dito, segundo Mônica Bergamo, que ele e Alckmin “parecem um casal que está junto há 50 anos”, elogiou os governos de Fernando Henrique e disse que PT e PSDB brigavam em público, mas “sempre se encontravam e brindavam com um chope”.

 Na campanha radicalizada de 2014, Dilma gritava do alto do palanque “quem não pula é tucano”, Lula e o PT diziam que tinham recebido do PSDB um país destruído e que a luta era radical, “nós contra eles”, “o povo contra a elite”.

 Ontem Lula disse que era tudo mentirinha.

 Como disse César Benjamin, Lula desmoraliza a política.

 Como eu sempre digo, Lula é o maior despolitizador de nossa história.

 Vão no tweeter dele agora, administrado por algum estagiário do marketeiro: vai ser só “estou saudável”, “vamos cuidar do povo”, “vou voltar pra fazer mais” e “escrevo cartas para minha namorada porque ainda não estou brocha”.

 Lula é o anti-Getúlio. Já era quando líder sindical, agora é com a história inteira de sua própria vida.

 Enquanto Getúlio estava disposto a dar a vida pelo Brasil, Lula está disposto a dar o Brasil por sua vida.

 Só tem um objetivo: voltar ao poder e resgatar sua biografia que não pode terminar na cadeia por corrupção. Ao nomear Alckmin como seu vice, dá uma garantia de vida aos oligarcas brasileiros: se tentar mudar o modelo, podem matá-lo. Ao contrário de Getúlio, não entende nada. Não entende que o país mudou. Quer repetir as mesmas fórmulas políticas, o mesmo modelo.

 Só quer resgatar a velha ordem da Nova República com seus principais atores juntos – PT, PMDB e PSDB – e administrar o modelo econômico estabelecido por FHC. Com quase oitenta anos, em palavras e atos mostra que já está em franco processo de degeneração cognitiva.

 Se Lula vencer, vai colocar todo o sistema político no mesmo saco e implodi-lo com novos escândalos de corrupção e a explosão em seu colo do modelo econômico que já morreu.

 Não restará saída institucional para o Brasil.

 Então vocês conhecerão uma verdadeira extrema-direita, e não um palhaço como Bolsonaro.

 A história está convocando você a impedir essa tragédia, custe o que custar.

(*) Gustavo Castañon é filósofo e professor.

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