Centro de Memória do PDT lança mais uma edição das “Cartilhas Trabalhistas”


Osvaldo Maneschy
21/10/2019

Com a casa cheia – o recém-inaugurado Espaço Multiuso Professor Loureiro, no andar térreo da sede da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLB-AP), na Rua do Teatro, 39 – foi lançada, no último sábado (18) a cartilha “Memórias Trabalhistas” dedicada ao líder negro Abdias Nascimento. Participaram do evento a viúva de Abdias e presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Afro-brasileiros, Elisa Nascimento Larkin;  representantes do movimento negro fluminense;  o coordenador do Centro de Memória Trabalhistas do PDT (CMT), Henrique Matthiesen; o vice-presidente da FLB–AP/RJ, Everton Gomes; e de Luiz Eduardo Negrogun, presidente do movimento negro do PDT-RJ.

Na abertura do ato foi lido, pelo ator Thiago Viana, o poema “Olhando no Espelho”, escrito por Abdias em 1980, dedicado aos seus netos, em que ele conta a sua vida de menino pobre e trabalhador: como a de todos os negros brasileiros nascidos e criados no país de antigos senhores de escravos.

Ainda na abertura, feita por Everton Gomes, foi feito relato da grande reunião realizada no dia anterior, quinta-feira (17), na Assembleia Legislativa, contra a política repressiva do governo fluminense nas favelas e comunidades pobres do Rio de Janeiro: responsável pela morte de 1.294 pessoas pelas mãos da polícia, no período de janeiro a agosto deste ano de 2019, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP).

“É preciso acabar com esta política de tiro na cabecinha”, citou Everton, referindo-se a uma frase do atual governador Witzel.

Elisa Larkin, por sua vez, destacou que o PDT foi o primeiro partido brasileiro a incluir no seu programa e na sua prática política, a luta contra o racismo – por que Leonel Brizola, quando ainda vivia no exílio, não só assimilou os ensinamentos de Abdias, como os adaptou a sua própria vivência de menino pobre.

“Conheci Brizola em Nova Iorque, quando ele ainda vivia no exílio, no Hotel Roosevelt, quando ele nos recebeu – ao Abdias e a mim – e ele próprio fez um café com leite para nós; enquanto falava sobre as dificuldades do povo brasileiro. Ele estava preocupado com o preço dos alimentos no Brasil, para se alimentar e sustentar suas famílias ganhando salário-mínimo” (que foi calculado, quando instituído no governo Getúlio Vargas, para uma família de quatro pessoas).

Ainda de acordo com Elisa, era admirável a capacidade de Brizola de ouvir e assimilar experiências e lições de vida, como as que Abdias lhe passava. E é por isto, afirmou, que o PDT foi o primeiro partido a incluir, desde o Encontro de Lisboa, a questão racial como uma de suas lutas prioritárias na política.

Elisa também elogiou a cartilha sobre a vida e a obra de Abdias Nascimento editada pelo Centro de Memórias Trabalhistas, do PDT, especialmente a biografia escrita por Wendel Pinheiro, linha mestra da publicação; e todos os demais textos incluídos na publicação, inclusive alguns do Abdias.

Ela relembrou também a fundação do Movimento Negro do PDT e a visita de Abdias Nascimento e vários militantes, em 1981, à Serra da Barriga, em Alagoas, onde floresceu o Quilombo de Palmares: símbolo nacional da luta dos negros pela libertação. E destacou a decisão de Brizola, ao formar seu primeiro secretariado no Governo do Estado, em 1982, de incluir dois secretários negros: Carlos Alberto Oliveira (Caó), na Secretaria de Habitação; e Edialeda Salgado do Nascimento, na Assistência Social. Lembrou ainda que na eleição de 1982, por Bangu, também se elegeu o deputado José Miguel.

Elisa falou também sobre os vídeos apresentados no início do evento – todos produzidos pelo Ipeafro; e descreveu o trabalho de resgate e da luta contra o racismo, tendo como ponto central a trajetória de Abdias Nascimento. Falou da importância de fortalecer esta luta e divulgou o endereço eletrônico da instituição, pedindo a todos que o visitem e acompanhem o trabalho do instituto: www.ipeafro.org.br

Falando em seguida, Henrique Matthiesen fez um relato das publicações de cartilhas feitas pelo CMT (sobre Neiva Moreira, Luis Carlos Prestes, Doutel de Andrade e Abdias Nascimento), das publicações planejadas (como a dos 40 anos de fundação do PDT, ano que vem, em quatro volumes, sob o título “De Vargas a Ciro Gomes”) e outras iniciativas do Centro. Henrique agradeceu especialmente o trabalho de Apio Gomes, presente ao ato, que segundo ele, é fundamental para o Centro.

Matthiesen também relatou como foi o trabalho de construção da cartilha resgatando a luta de Abdias Nascimento e da importância fundamental de Elisa Larkin e do Ipeafro, além de Apio e outros colaboradores, para que a publicação estivesse ali, impressa, para leitura de todos.

O ato foi encerrado pelo presidente do Movimento Negro do PDT do Rio, Luiz Eduardo Negrogun – um dos responsáveis pela produção do evento – que, além de Abdias Nascimento, exaltou o trabalho, de Caó, de Edialeda e de José Miguel, entre outros militantes, pela causa do movimento negro do PDT.

Em seguida, visivelmente emocionada, Elisa Larkin – como uma espécie de aparte final – retomou a palavra para destacar a importância de o PDT ter um protagonismo cada vez mais necessário na luta das populações negras do Rio de Janeiro contra a política de genocídio da juventude negra: não só diretamente, pela ação policial; mas também “pela morte de todos os dias, por conta dos silêncios que não permitem que a coletividade dos jovens negros se identifique com um todo” e lute por seus direitos.

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