“Nossa chance real de mudança no Brasil é o Ciro”, defende o vereador Fernando William


Leo Lupi
30/06/2018

Vereador da cidade do Rio de Janeiro em seu quarto mandato, Fernando William é um dos quadros que está no partido praticamente desde a sua fundação. Médico, Fernando já foi deputado federal e ocupou secretarias importantes na Prefeitura e no Governo do Rio.

Em entrevista para o site da Fundação Leonel Brizola- Alberto Pasqualini (FLB-AP), o vereador falou sobre sua relação com o PDT e sua visão do cenário político atual.

 

Você se filiou ao PDT em 1982. Como o partido surgiu em sua vida e qual sua identificação com o trabalhismo?

Meu pai era brizolista, e eu, com nove anos de idade, acompanhava meus pais na campanha do Brizola pra deputado federal do Rio de Janeiro, por exemplo. Eu assistia à rádio Mayrink Veiga, que era a rádio que divulgava a opinião dos nacionalistas. Me lembro, como se fosse hoje, que estava ouvindo parlamentares da frente nacionalista, janguistas, brizolistas, quando se interrompeu a fala e entrou uma voz dizendo que o presidente Jango havia se afastado do país, e que o canalha do presidente do Senado, Auro de Moura, havia empossado Ranieri Mazzini, que era o presidente da Câmara e, portanto, o substituto natural do presidente Jango. Depois, a história demonstrou que isso não era verdade. O Jango estava no Rio Grande do Sul. Aquilo se revelou realmente uma articulação dos presidentes do Senado e da Câmara com militares golpistas para dar o golpe de 64.

A minha história foi muito vinculada ao trabalhismo, fui do movimento estudantil durante anos, fui orador da turma. Num determinado momento, quando Brizola funda o PDT, eu ingresso no partido muito jovem. Algumas vezes me chamaram pra ser candidato e eu não quis. Em 89, eu era médico, tinha um razoável conhecimento, tinha sido inclusive diretor de uma unidade de saúde, e, então, fui candidato a vereador. Sem um tostão, sem nada, gastando apenas com alguns panfletos, eu me elegi como o quinto vereador mais votado de uma bancada de 12 que o PDT elegeu naquele ano. Tive três mandatos sucessivos, depois fui secretário, fiz uma trajetória no Executivo e agora retornei para o Legislativo, novamente pelo PDT.

 

Você tinha se afastado da política por alguns anos antes da última eleição. O que o fez mudar de ideia e decidir voltar?

Estava meio cansado dessa situação que o país vinha vivendo, achava que não tinha muita contribuição a dar. Até que uma coisa me chamou muita atenção: o impeachment da presidente Dilma. Foi um evento em rede nacional e vimos ali um nível extremamente baixo do Poder Legislativo, degradante. Quem assistiu aquilo, viu a pantonima que é o Congresso Nacional, em sua grande maioria. Claro que tem muita gente boa, mas a grande maioria não tinha o que dizer. Uma deputada disse “voto em nome da moralidade” e no dia seguinte o marido dela, prefeito, foi preso.

Então, pensei que valia a pena voltar pra tentar dar uma contribuição para o Legislativo, porque sem o Legislativo a gente não tem democracia. A democracia é uma conquista civilizatória, a gente tem que lutar muito por ela. Eu tenho visto alguns falando em intervenção militar, mas eu pergunto: qual país desenvolvido do mundo que teve uma intervenção militar duradoura? Digo desenvolvido não só do ponto de vista econômico, mas desenvolvido do ponto de vista humano. Democracia é fundamental. Tenho uma visão de que a gente tem que caminhar pra uma sociedade onde todos tenham as mesmas oportunidades e os mesmos direitos. Isso é o socialismo. Mas acredito que isso tem que ser construído com o debate, a persuasão, o convencimento, com a demonstração prática de que o capitalismo é um regime de acumulação do capital.

Poucos têm muito, mas muito mesmo, que não sabem nem o que fazer com todo o dinheiro que têm. Enquanto isso, existe um terço da população vivendo em situação de miséria, abaixo da linha da pobreza, passando fome. Nós chegamos à fase mais avançada do capitalismo, que é a fase do domínio do capital financeiro, que manipula os mercados e manipulam a política, conduzem a política. A gente precisa ter coragem de enfrentar essa situação.

 

Há um grande descrédito dos jovens com a política atualmente. Como você, que teve uma história na militância estudantil, acha possível reverter esse quadro e aproximar a juventudade da política?

No tempo em que fui líder estudantil, nós viviamos uma ditadura e havia uma parcela significativa dos jovens cujos pais diziam: “olha, não se mete em política, isso é perigoso”. E de certa forma era mesmo. Mas tinha uma parcela grande dos jovens que não admitia viver sob a tutela de um Estado repressor, que limitava a liberdade individual e a liberdade coletiva, que impunha censura à cultura e à imprensa. Enfrentamos um período muito duro porque, como todo regime autoritário, ele teve um período em que promoveu desenvolvimento econômico. Mas, no fim, a gente viu no que deu a ditadura: um regime de inflação extremamente elevado, um endividamento interno e externo brutal.

Muita gente acha que as “Diretas” conquistaram a democracia. Elas foram de fundamental importância, inclusive participei, mas estou absolutamente convencido de que os militares tinham força militar pra continuar mandando no país por mais algum tempo. Eles saíram porque viram a lambança que fizeram no país. O país não tinha reservas cambiais para dar conta do básico. O FMI mandava na nossa economia, literalmente. Várias obras foram paralisadas, o país entrando num buraco sem fundo que não tinha tamanho e a juventude, naquele momento, tinha uma participação mais intensa.

Hoje, o que a gente observa, por uma série de fatores, influência dos meios de comunicação e da própria mídia virtual, que há uma confusão enorme na cabeça da juventude. Acho que o jovem está lendo muito pouco também. Eu, por exemplo, li toda a obra marxista, li toda a obra de Rosa Luxemburgo, li Adam Smith também. Naquela época a gente tinha o prazer de ter conhecimento pra participar do debate, com alto nível,  compreender o que tava se passando, a conjuntura. Hoje é raro. O jovem é a favor disso ou daquilo, às vezes tem até opiniões contundentes, mas se você perguntar o que ele leu a respeito daquilo que ele defende, na maioria das vezes, não consegue explicar.

Não falo isso com relação apenas aos que se colocam como jovens de esquerda, mesmo os de direita. Eu, por exemplo, lia e achava muito interessante Roberto Campos. Porque era um cara muito bem preparado, um liberal cheio de argumentos, você aprendia. É estimulante debater com alguém que pensa contra voce mas que tem conhecimento dos fatos, da realidade, sabe aquilo que tá defendendo. Hoje, você fica com uma enorme dificuldade de conversar.

Como você enxerga a candidatura do Ciro à Presidência?

Sempre admirei o Ciro, pela sua inteligência, pela sua capacidade de formulação. Acho que o Ciro melhorou muito até, na minha opinião. Se a gente tivesse uma população menos fragmentada e mais esclarecida politicamente, o Ciro era o cara propício para o momento que nós estamos vivendo. É um camarada muito bem preparado, que entende como poucos a questão política no país e no mundo, que oferece alternativas muito claras e concretas nessa lógica de termos uma identidade nacional, uma economia própria, influenciarmos outros países do mundo a partir do diálogo e do entendimento. Me surpreendo cada vez mais pela sua clareza da realidade brasileira e sobre aquilo que nós devemos objetivamente fazer. Eu não vejo nenhum candidato dizer com tanta clareza o que precisa ser feito para que o Brasil saia do atoleiro em que se meteu. Nossa chance real de mudança no Brasil, hoje, é o Ciro.

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