Lígia Doutel de Andrade: “Desenvolvimento e liberdade são componentes harmônicos”


Da Redação
12/05/2021

Ex-deputada federal representou uma voz de resistência após o golpe militar que afastou João Goulart

No discurso de posse como deputada federal, em 12 de maio de 1967, Lígia Doutel de Andrade manifestou o valor intrínseco da democracia com o desenvolvimento e a liberdade. A manifestação foi resgatada na nova edição do podcast “A Voz Trabalhista”, que foi lançado, nesta quarta-feira (12), pelo Centro de Memória Trabalhista (CMT).

“Uma democracia para o desenvolvimento – eis, em síntese, a definição que encerra todo um programa de vasta e fecunda atuação, suscetível de apontar soluções corretas para os múltiplos problemas brasileiros, desde a agressão aos direitos individuais às sufocantes condições de vida”, relatou. Na foto, ela (esq.) aparece, em 2019, ao lado da deputada estadual, Martha Rocha (PDT-RJ).

“Desenvolvimento e liberdade são componentes harmônicos de um todo, que se interligam e completam. Uma não podendo subsistir sem a outra – e ambas constituindo a aspiração maior de uma Nação que desejar sair do carrascal em que a mergulharam”, acrescentou.

Eleita pelo antigo MDB, em 1966, com mais de 45 mil votos, a esposa de Doutel de Andrade se tornou, na época, a mais votada de Santa Catarina em um movimento de sucessão, pois o trabalhista passou a ocupar o cargo de vice-governador após dois anos de mandato na Câmara. A marcante parceria sempre foi reconhecida por ambos os lados.

“Além da admiração que lhe devoto como sua mulher, admiro-o também na minha qualidade de cidadã brasileira, que vê em Doutel de Andrade um dos grandes líderes desde país que soube honrar esta Casa, conduzindo a Oposição com coragem, com altivez e com desassombro num instante dos mais terríveis e mais difíceis para esta Nação”, comentou.

Combativa

Por ser defensora das bandeiras potencializadas por Getúlio Vargas, Leonel Brizola e João Goulart, bem como crítica dos presidentes militares, Lígia foi perseguida pela ditadura e, em 1968, foi cassada. Com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), foi também banida da política por dez anos.

“Não é preciso muito esforço, senhor presidente, nem são necessários grandes conhecimentos especializados para se chegar à conclusão de que realmente fracassou a quartelada de abril de 1964”, afirmou, ao completar: “O desastre está claramente exposto numa publicação insuspeita, que é o Estudo Econômico do CEPAL, ou seja, da ONU para a América Latina”.

Redemocratização

Já na década de 80, como uma das fundadoras do PDT no processo de reabertura do Brasil, integrou a Internacional Socialista de Mulheres, onde exerceu, por dois anos consecutivos, o cargo de vice-presidente para a região Brasil-Paraguai.

retomada do mandato só ocorreu após 44 anos, durante cerimônia no Congresso Nacional, em 6 de dezembro de 2012. Na ocasião, resgatou a trajetória contra abusos acumulados por militares.

“Muitas pagaram com a própria vida a fidelidade aos seus ideais. Outras tantas foram vítimas de violenta repressão e outras mais sofreram a morte ou o desaparecimento de filhos, maridos, companheiros, pais e irmãos. Mesmo assim, não renunciaram às suas convicções e prosseguiram dando contribuição valiosa à causa da democracia e da liberdade”, explicou, ao receber novamente o diploma há nove anos.

Acompanhe a íntegra do novo episódio aqui.

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