Leite Filho: Do “passando fogo” de Brizola ao “só a bala” de Lupi

A retórica do tiro está encravada na história do PDT. No caso em tela, não no viés belicista e sim como um chamamento à razão, nestes tempos turvados pela intolerância e lavagem cerebral. No auge de sua cruzada contra o desmonte do Estado executado pelo governo FHC (1995-2002), Leonel Brizola afirmou, em 2001, que “votaria por passar fogo” em Fernando Henrique Cardoso, caso fosse juiz de um tribunal encarregado de julgar os atos do presidente. Dez anos depois, Carlos Roberto Lupi, outro emocional presidente do PDT, e cria afiadíssimo de Brizola, ocupando eventualmente o cargo de ministro do Trabalho, no qual pontuou com brilho outro trabalhista da velha cepa, João Goulart, se exalta e diz que só sai do ministério “a bala”. Antes de regressar à atualidade, permita-me um mergulho no passado recente. Aquela descompostura de Brizola se prestou, compreensivelmente, a explorações e intrigas, as mais torpes e variadas. Chegaram a atribuir-lhe um intento magnicida. Não obstante, Brizola conseguiu o que queria: colocar em pauta um problema grave que estava sendo deliberada e criminosamente abafado. Ele se referia à farra das privatizações das empresas públicas – Embratel e seus satélites, o complexo da Telebrás, a Vale do Rio Doce, o Banespa, a Petrobrás, em menor proporção, e outras. O programa de FHC, chamado depois de “privataria”, desempregou centenas de milhares de funcionários, depauperou a economia e fragilizou os poderes do Estado diante das multinacionais. Estas passaram a dominar por completo nossas telecomunicações, siderúrgicas, eletricidade, o subsolo, a água, tudo. O assalto corria à solta naqueles tempos neoliberais e ninguém dava um pio, porque as empresas de mídia também repartiam o botim bilionário entrando de sola nas telefônicas da Telebrás. Quem ousasse levantar a voz era abatido ao mais tumular dos silêncios. Brizola portava a voz solitária, quase perdida no culto ao “livre mercado”. Só foi ouvido quando falou em bala, aliás, em tiro. O ano era de 2001, porquanto as privatizações já estavam quase no fim e Brizola andava rouco de tanto clamar no deserto. Foi enfático: “Com este Fernando Henrique, só passando fogo…” Como já havia feito em outras ocasiões, o presidente pedetista comparou o então presidente da república a Calabar, personagem que entrou para a história como “traidor” no episódio da invasão dos holandeses na época do Brasil colonial. Como se sabe, Calabar foi preso e enforcado. O episódio ocorreu num encontro festivo com militantes pedetistas na churrascaria Mosqueteiro, na zona leste de Porto Alegre, o que não impediu o ex-governador de exaltar-se. Para ele, FHC “passou para o lado do inimigo” ao adotar uma política de “entrega” do patrimônio público aos interesses internacionais. Já o petardo de Lupi, desta vez, se direciona não contra a presidenta responsável pela sua nomeação como ministro. Dilma, na verdade, cumpre um roteiro bem afinado ao de Leonel Brizola, mesmo com estilo diferente, como Lula. seu antecessor e padrinho de Lupi, também o fez. Seu destino certo é a mídia, que não deixa o governo governar. No afã de encabrestar o governo, ganhar mais dinheiro, com este sensacionalismo rasteiro, e poder, a mídia decidiu agora ocupar o Palácio do Planalto para ditar, inclusive, a política externa. Isto muito incomoda seus mentores, as tais das multinacionais ou, mais contemporaneamente, o mercado. No calor das câmeras, o ministro exagerou, ao avisar, que, para tirá-lo do cargo, “só abatido à bala e tem que ser bala forte, porque eu sou pesadão”. Ora, o cargo é de provimento privativo da Presidenta da República. Isso bastou para novos e virulentos ataques, além de uma bem urdida intriga com a Presidenta. O ministro estava achacando, chantageando Dilma Rousseff, mesmo porque o PDT, em outro movimento, tinha ameaçado sair do Governo, no caso da demissão de seu ministro. As bolsas de aposta pela cabeça dele foram parar nas nuvens. O ministro estava no chão, era questão de horas. Dilma não ia tolerar a insubordinação, diziam os manchetões, inclusive o de O Globo de quarta, 9/11/11 (Novamente, o Globo…) Nem por isso, Lupi deixou a humildade e se retratou: “Presidenta Dilma, desculpe se fui agressivo. Não foi a minha intensão. Eu te amo”. Mas reforçou sua disposição em enfrentar seus acusadores midiáticos: “Eu vou mostrar para vocês (jornalistas) que é possível a mídia errar. vou mostrar que, com o erro, vocês terão de dar espaço para defender a honra das pessoas”. A história continua.   *Leite Filho é jornalista, analista político e autor dos livros  "El Caudillo Leonel Brizola – Um Perfil Biográfico" e "Quem Tem Medo de Hugo Chávez?”.

A retórica do tiro está encravada na história do PDT. No caso em tela, não no viés belicista e sim como um chamamento à razão, nestes tempos turvados pela intolerância e lavagem cerebral. No auge de sua cruzada contra o desmonte do Estado executado pelo governo FHC (1995-2002), Leonel Brizola afirmou, em 2001, que “votaria por passar fogo” em Fernando Henrique Cardoso, caso fosse juiz de um tribunal encarregado de julgar os atos do presidente.

Dez anos depois, Carlos Roberto Lupi, outro emocional presidente do PDT, e cria afiadíssimo de Brizola, ocupando eventualmente o cargo de ministro do Trabalho, no qual pontuou com brilho outro trabalhista da velha cepa, João Goulart, se exalta e diz que só sai do ministério “a bala”.

Antes de regressar à atualidade, permita-me um mergulho no passado recente. Aquela descompostura de Brizola se prestou, compreensivelmente, a explorações e intrigas, as mais torpes e variadas. Chegaram a atribuir-lhe um intento magnicida. Não obstante, Brizola conseguiu o que queria: colocar em pauta um problema grave que estava sendo deliberada e criminosamente abafado.

Ele se referia à farra das privatizações das empresas públicas – Embratel e seus satélites, o complexo da Telebrás, a Vale do Rio Doce, o Banespa, a Petrobrás, em menor proporção, e outras. O programa de FHC, chamado depois de “privataria”, desempregou centenas de milhares de funcionários, depauperou a economia e fragilizou os poderes do Estado diante das multinacionais. Estas passaram a dominar por completo nossas telecomunicações, siderúrgicas, eletricidade, o subsolo, a água, tudo.

O assalto corria à solta naqueles tempos neoliberais e ninguém dava um pio, porque as empresas de mídia também repartiam o botim bilionário entrando de sola nas telefônicas da Telebrás. Quem ousasse levantar a voz era abatido ao mais tumular dos silêncios. Brizola portava a voz solitária, quase perdida no culto ao “livre mercado”. Só foi ouvido quando falou em bala, aliás, em tiro. O ano era de 2001, porquanto as privatizações já estavam quase no fim e Brizola andava rouco de tanto clamar no deserto. Foi enfático: “Com este Fernando Henrique, só passando fogo…”

Como já havia feito em outras ocasiões, o presidente pedetista comparou o então presidente da república a Calabar, personagem que entrou para a história como “traidor” no episódio da invasão dos holandeses na época do Brasil colonial. Como se sabe, Calabar foi preso e enforcado.
O episódio ocorreu num encontro festivo com militantes pedetistas na churrascaria Mosqueteiro, na zona leste de Porto Alegre, o que não impediu o ex-governador de exaltar-se. Para ele, FHC “passou para o lado do inimigo” ao adotar uma política de “entrega” do patrimônio público aos interesses internacionais.

Já o petardo de Lupi, desta vez, se direciona não contra a presidenta responsável pela sua nomeação como ministro. Dilma, na verdade, cumpre um roteiro bem afinado ao de Leonel Brizola, mesmo com estilo diferente, como Lula. seu antecessor e padrinho de Lupi, também o fez.

Seu destino certo é a mídia, que não deixa o governo governar. No afã de encabrestar o governo, ganhar mais dinheiro, com este sensacionalismo rasteiro, e poder, a mídia decidiu agora ocupar o Palácio do Planalto para ditar, inclusive, a política externa. Isto muito incomoda seus mentores, as tais das multinacionais ou, mais contemporaneamente, o mercado.

No calor das câmeras, o ministro exagerou, ao avisar, que, para tirá-lo do cargo, “só abatido à bala e tem que ser bala forte, porque eu sou pesadão”. Ora, o cargo é de provimento privativo da Presidenta da República. Isso bastou para novos e virulentos ataques, além de uma bem urdida intriga com a Presidenta. O ministro estava achacando, chantageando Dilma Rousseff, mesmo porque o PDT, em outro movimento, tinha ameaçado sair do Governo, no caso da demissão de seu ministro.

As bolsas de aposta pela cabeça dele foram parar nas nuvens. O ministro estava no chão, era questão de horas. Dilma não ia tolerar a insubordinação, diziam os manchetões, inclusive o de O Globo de quarta, 9/11/11 (Novamente, o Globo…)

Nem por isso, Lupi deixou a humildade e se retratou: “Presidenta Dilma, desculpe se fui agressivo. Não foi a minha intensão. Eu te amo”.
Mas reforçou sua disposição em enfrentar seus acusadores midiáticos: “Eu vou mostrar para vocês (jornalistas) que é possível a mídia errar. vou mostrar que, com o erro, vocês terão de dar espaço para defender a honra das pessoas”. A história continua.

 

*Leite Filho é jornalista, analista político e autor dos livros  “El Caudillo Leonel Brizola – Um Perfil Biográfico” e “Quem Tem Medo de Hugo Chávez?”.

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