Ciro e a dinâmica eleitoral


Lindinor Larangeira
03/08/2022

Faltando dois meses para as eleições presidenciais deste ano, as pesquisas teimam em manter Ciro Gomes “colado” nos 8%. Fato muito parecido com o que aconteceu em 2018 porque Ciro tem muito mais

Faltam exatos dois meses para as eleições. Uma disputa, como reiteradamente falamos neste espaço, restrita a três candidatos com chances de vitória.

Mas antes de abordar o pleito do dia 02/10, voltemos a 2018, para refrescar a memória. Em agosto daquele ano, a pesquisa Datafolha tinha os seguintes números: Lula 39, Bolsonaro, 18, Alckmin 6, Ciro 5.

O primeiro dado relevante a ser resgatado é o fato de que não era necessário ser expert em política para saber que Lula não seria candidato. O segundo, era que a classe dominante apostava suas fichas em Geraldo Alckmin. O terceiro é que o plano B do sistema, por mais incrível que pudesse parecer, era Jair Bolsonaro.

Por isso, Lula foi inviabilizado, com uma prisão absolutamente arbitrária e ilegal, e como o plano A, de Alckmin, não decolou, a elite do atraso resolveu apostar suas fichas em Bolsonaro. Bem, não em Bolsonaro, mas em Paulo Guedes, que de acordo com o raciocínio dos promotores do golpe de 2016, seguiria implementando a agenda, iniciada no mandato ilegítimo de Michel Temer.

Mas o que a classe dominante não contava era que o bobo da corte gostasse de ser a atração principal do espetáculo e acabasse por ser um empecilho, mesmo que involuntário, à aplicação do receituário de entrega do patrimônio nacional e retirada dos direitos da população.

A inépcia e a irresponsabilidade de Bolsonaro levaram o país a maior crise social, política e econômica, desde o fim da ditadura militar. Para além disso, deixa um legado de desmoralização e instabilidade institucional.

O disfuncional governo, desgraçadamente, cumpriu as promessas de transformar o país em “pária internacional” e de “mais destruir do que construir”.

Assim, parte significativa da burguesia nacional se distancia do governo. Afinal, para o capitalismo, vale a regra básica de máxima rentabilidade, dentro de um clima de estabilidade. Estabilidade e Bolsonaro são palavras que não cabem na mesma frase.

Voltando aos dias atuais, hoje, a colunista Mônica Bergamo, em sua coluna na Folha, divulgou o grande medo de Bolsonaro, em caso de derrota eleitoral: a cadeia.

O presidente não passa de um espantalho, um morto-vivo, uma espécie de zumbi do seriado The Walking Dead. Ainda assim tem o poder de uma Bic com muita tinta, além de uma considerável base de devotos. Em minha avaliação, é menor do que indicam as pesquisas do Datafolha e do IPEC (ex-Ibope), que apontam algo em torno de 30%. Posso estar equivocado, mas em minha opinião são cerca de 25%. É o suficiente para levá-lo ao segundo turno, caso haja segundo turno? Essa é a pergunta de um milhão de dólares.

A tática eleitoral de Bolsonaro lembra muito a usada por Marcelo Crivella, na eleição para a Prefeitura do Rio: radicalizar para manter a base unida, mesmo que falando apenas para dentro. O bispo neopentecostal até foi para o segundo turno, mas sofreu uma derrota humilhante.

Então, Lula é o candidato do sistema? Não. Lula é apenas um instrumento, um Cavalo de Tróia. O plano A continua sendo Alckmin. Agora chancelado por uma grande coligação de ex-querda, comandada pelo PT.

As pesquisas dão entre 45 e 47% ao candidato, mas… Vamos, novamente, desafinar o coro dos contentes. Historicamente, o lulismo, que sempre foi maior do que o petismo, tem algo na casa de um terço do eleitorado. Portanto, mesmo com o descalabro do atual governo é muito difícil crer que Lula tenha quase a metade do eleitorado. As próprias pesquisas mostram uma rejeição ao ex-presidente de mais de 30%.

Avalio que essa candidatura, que pode se transformar no maior estelionato eleitoral da nossa história, tenha algo em torno de 35% do eleitorado.

Sobre o terceiro postulante, não confundam por favor com “Terceira Via”, hoje na nona versão, Simone Tebet, de quem não falarei nesse texto, mas Ciro, aquele mesmo que tinha 5% em agosto de 2018, segundo as pesquisas, e chegou a 12,5% nas urnas.

Desculpem a sinceridade, mas não creio nesses hipotéticos 8% das atuais pesquisas. Não é crível que uma candidatura que, mesmo em uma eleição muito mais adversa, com uma fortíssima onda bolsonarista, menos organização e militância, comece em um patamar menor do que o anterior. Ciro deve ter algo na casa dos 15%, ou seja, continua, para desespero da classe dominante, no jogo.

Nesses dois meses é necessário dobrar a votação de Ciro. O tempo é curto, a tarefa é desafiadora, mas a missão de cada um de nós é conquistar, pelo menos, mais dois votos para o Projeto Nacional de Desenvolvimento, tirar Bolsonaro do segundo turno e travar o debate com o PT, o lulismo e suas contradições.

Começo agora as minhas preces para São João. São João Santana…

(*) Lindinor Larangeira é jornalista.

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