Brasil quadruplica importação de gás dos Estados Unidos


Osvaldo Maneschy
20/04/2022

Abundante no pré-sal, país já gasta sem necessidade US$ 2,1 bilhões por semestre

O Brasil gastou US$ 572,4 milhões no primeiro trimestre de 2021 e, agora, no 1° semestre de 2022, US$ 2,1 bilhões com importação de gás natural dos Estados Unidos, que é abundante aqui no país, nas megajazidas de petróleo do Pré-Sal exploradas pela Petrobrás, e por várias petroleiras estrangeiras a partir de 2016.

Ao mesmo tempo em que esta conta não para de subir, o governo continua permitindo que as petroleiras reinjetem o gás natural nos poços de petróleo do país, apesar da fortuna gasta com a importação.

O ex-engenheiro da Petrobrás e ex-consultor Legislativo do Senado, Paulo Cesar Lima, denunciou em entrevista ao jornal HP que as empresas petrolíferas que atuam no Brasil, inclusive a Petrobrás, estão reinjetando todo o gás nos poços enquanto o Brasil importa o insumo em quantidades cada vez maiores.

Ele citou o exemplo do Campo de Libra:”A Agência Nacional do Petróleo aprovou um Plano de Desenvolvimento para o Campo de Libra que prevê a reinjeção total do gás produzido com exceção apenas do gás consumido na plataforma”, denunciou.

Acrescentou que “o campo de Bacalhau, operado pela Equinor, também não prevê transporte de gás”, ou seja, todo o gás produzido é reinjetado no solo – verdadeiro desperdício de uma energia mais limpa e cada vez mais utilizada no mundo inteiro – hoje uma das principais ferramentas de pressão da Rússia, para fazer frente ao boicote dos países ligados à OTAN, por conta da guerra na Ucrânia.

A elevação da importação de gás natural procedente dos Estados Unidos, pelo Brasil, foi de US$ 572,4 milhões no primeiro trimestre de 2021 para US$ 2,1 bilhões no mesmo período de 2022, uma elevação do preço pago em dólares, de 263% – embora o crescimento do volume de gás adquirido  tenha sido de apenas  9,4%. Um ‘maná’ para os exportadores dos EUA e gravíssimo prejuízo para o Brasil.

Paradoxalmente, o Brasil possui reservas de gás natural suficientes para atender à demanda do país, tanto da população quanto da indústria e das termoelétricas. No entanto, o governo não atende a essa demanda com produção interna porque a Petrobrás está, desde 2014, aplicando planos de desinvestimento ao invés de planos de investimento.

 O resultado é o crescimento das importações de derivados de petróleo (combustíveis refinados) e de gá naturals, a preços são cada vez mais elevados.

O gás natural, que é produzido junto com o petróleo, é reinjetado nos campos do Pré-sal para ajudar na extração do óleo. O Brasil reinjetou 50% de sua produção nos dois primeiros meses de 2022, sendo que em  janeiro, bateu recorde com o maior volume de gás reinjetado segundo a série histórica da ANP : 65,9 milhões de metros cúbicos por dia.

O engenheiro Paulo Roberto César Lima  defende a obrigatoriedade de ofertas mínimas de gás pelas empresas exploradoras de petróleo.

 “Oferta mínima é exigir que, no plano de desenvolvimento do campo, um percentual de 40% da produção de gás sejam disponibilizados para a população”, diz o especialista.

“Se as empresas fossem obrigadas a uma oferta mínima, os preços cairiam e a demanda poderia crescer muito”, acrescentou Lima, destacando que sempre defendeu essa política como consultor legislativo e como especialista no setor.

O Brasil não só não tem investido na produção de gás natural e de derivados, como criminosamente está aplicando uma política de venda de refinarias e redes de gasodutos, na esteira das privatizações que marcam o governo Bolsonaro.

Sem a estrutura para o transporte do gás, a decisão do Planalto é aumentar a importação dos Estados Unidos. As empresas americanas estão rindo à toa, já que conseguiram subjugar a Europa obrigando-a a cortar seus laços com os produtores russos e, agora, estão vendendo o gás mais caro para os europeus. De lambuja, o Brasil também está pagando mais caro.

Com informações do jornal HP.

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