Adriano Pires, indicado por Bolsonaro para presidir a Petrobrás, desiste do cargo


Oswaldo Maneschy
04/04/2022

Indicado por Bolsonaro trabalhou na Agência Nacional de Petróleo (ANP) e é fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

O jornal “O Globo” anunciou, na tarde desta segunda (4/4), citando fontes do Planalto, que o lobista Adriano Pires, indicação de Bolsonaro para substituir o general Silva e Luna na presidência da Petrobrás – a maior empresa do Brasil – desistiu do cargo. Outro indicado de Bolsonaro, este para a presidência do Conselho de Administração, Rodolfo Landim, investigado por malversação de fundos pelo TCU, também recusou a indicação presidencial.

Adriano Pires foi uma escolha do “centrão”, maioria governista que domina o Congresso, que segundo o jornal “O Globo” queria uma presidência da estatal “com melhor comunicação no ano eleitoral, principalmente para explicar à população o reajuste no preço dos combustíveis”.

Segundo as fontes do Globo, Adriano Pires teria dito que não queria ser submetido a desgastes e ataques no comando da Petrobras, já que todos viam na sua nomeação um conflito de interesses com a estatal porque trabalha, como lobista, para todas as petrolíferas estrangeiras que atuam no Brasil e querem abocanhar jazidas e subsidiárias da Petrobrás, via privatizações – apoiadas por Adriano Pires.

A desistência de Pires, comunicada ao Planalto, pegou setores do governo de surpresa.

Até hoje cedo, defensores do nome de Pires diziam que a indicação dele estava mantida e que não havia plano B para a vaga. Ainda não há definição sobre quem vai substituir Silva e Luna no comando da Petrobras.

Pires, que já trabalhou na Agência Nacional de Petróleo (ANP) e é fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), foi indicado pelo governo Bolsonaro para substituir o general Silva e Luna no comando da estatal. Imediatamente, logo que seu nome foi anunciado, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu uma investigação para que fosse verificado conflito de interesses, uma vez que ele atua na rede privada.

Pré-sal e Petrobrás

A Petrobrás informou na sexta-feira passada (1/4) que descobriu uma nova acumulação de petróleo no pré-sal da porção sul da Bacia de Campos, no poço 1-BRSA-1383A-RJS (Alto de Cabo Frio Central Noroeste). O poço está localizado a 230 km da cidade do Rio de Janeiro (RJ), em profundidade d’água de 1.833 metros.
A Petrobras afirmou que as operações de perfuração do poço continuarão até a profundidade final, “visando avaliar as dimensões da nova acumulação, além de caracterizar a qualidade dos fluidos e dos reservatórios constatados”.

Segundo o jornalista Paulo Motoryn, do blog “Brasil de Fato”, Pires é dono de uma empresa “fantasma” com capital milionário em área residencial , no condomínio Roland Garros, na orla de Niterói, que oficialmente é exclusivamente residencial. A empresa chamada Tapd Nit Consultoria Empresarial, sediada no prédio residencial, tem capital registrado de 1,2 milhão de reais. O “Brasil de Fato” não localizou nenhum site oficial ou página da empresa na rede social corporativa LinkedIn.

Também não há nenhum tipo de menção na internet ao nome da firma. De acordo com a Receita Federal, familiares de Pires são os sócios-administradores. Além de Adriano Pires, o quadro societário da Tapd Nit Consultoria Empresarial contempla a esposa de Adriano, Maria Tereza dos Santos Rodrigues, e seus filhos, Pedro Rodrigues e Deborah Rodrigues. Na Receita Federal, a descrição da atividade econômica principal da empresa é de “serviços combinados de escritório e apoio administrativo”. Como “atividade secundária”, aparece que a empresa pode atuar em “gerenciamento de imóveis”. Em seus currículos disponíveis no LinkedIn, Adriano Pires, Pedro e Deborah, não exibem o cargo ocupado na empresa como uma experiência profissional.

Pedro e Deborah trabalham com Pires. Ele, inclusive, assina artigos ao lado de Pires no site Poder360 e tem um canal no YouTube chamado “Manual do Brasil”. Ela chegou a atuar por dois anos como assessora do Ministério da Economia, em cargo de confiança, sob o comando de Paulo Guedes.

Publicamente, Pires fundou e dirige uma empresa de consultoria, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que há mais de 20 anos trabalha ou trabalhou para as principais multinacionais de petróleo, gás e energia.

De acordo com reportagem do jornalista Rubens Valente, no UOL, contudo, a lista dos seus clientes não é informada em nenhum endereço público e, quando foram indagados sobre isso, o CBIE e Pires se recusaram a fornecê-la. Procurado com uma série de perguntas sobre os clientes da sua consultoria, o CBIE informou a Valente, por email na terça-feira da semana passada quando da indicação (29): “Infelizmente não podemos atendê-lo, pois o prof. Adriano Pires está em período de silêncio”.

Em 2019, nomeado pelo atual governo para integrar o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Adriano Pires teve a oportunidade de esclarecer esse ponto, mas estrategicamente renunciou a cadeira de conselheiro do órgão vinculado ao governo Bolsonaro assim que o tema dos seus clientes foi alvo de questionamento.

Em dezembro do ano passado o site The Intercept Brasil aponta, com base na entrevista de um empresário que preferiu não se identificar para evitar prejuízos profissionais, que Adriano Pires opera em “todo tipo de privatização, vantagem a particulares, defesa de interesses estrangeiros no setor elétrico e de petróleo”.
A reportagem aponta que Pires atuou com afinco por uma lei que beneficiasse a Comgás, empresa sobre a qual ele costuma escrever artigos favoráveis e que também seria cliente da sua consultoria, segundo fontes do setor afirmaram ao “Intercept”. A apuração do veículo aponta ainda que Pires atuou em diversas outras pautas em favor de empresas do setor de óleo e gás que contratam seus serviços, citando como exemplos a Comgás e a Cosan.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada ao PT, afirmou que Adriano Pires, caso assumisse o comando da Petrobrás, intensificaria a venda do patrimônio da empresa, como já fizeram com a BR Distribuidora, dutos de gás, plataformas, campos maduros e até jazidas do pré-sal; além de trabalhar para que o ‘fracking’ fosse permitido no Brasil, apesar dos impactos ambientais que provoca, como contaminação da água e do solo, além dos riscos de explosão com a liberação de gás metano, consumo excessivo de água, e poluição por uso de substâncias químicas.

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